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sábado, 17 de abril de 2010

"Toda canção de amor que escrevo é para Linda"


"Oi, meu nome é Paul. Qual é o seu?"
Paul, você era péssimo com cantadas. Ou muito bom, porque funcionou. Mas como essa mulher não saberia quem era você, já em 1967, numa sala cheia de bandas sessentistas que ela estava fotografando para o seu livro, incluindo a sua underground e insignificante The Beatles?

De qualquer forma, dizem testemunhas que foi amor à primeira vista. Existindo isso ou não, os dois se tornaram inseparáveis - não apenas enquanto namoravam ou enquanto saíam em turnê com sua banda Wings, mas sempre, pelos próximos 30 anos... Interrompidos pela morte de Linda.

Paul estava numa fase ruim com sua noiva Jane Asher. Ela não queria se casar e o sonho dele era ter uma grande e feliz família. Linda estava divorciada do pai de sua filha, que foi embora pra África, deixando as duas nos EUA. Um dia essas duas pessoas esquecidas pelo Cupido se cruzaram num evento em Londres, do qual os Beatles eram convidados e ela estava fotografando. Ele lembra de ter se sentindo encantado pelo fato dela ser a única fotógrafa mulher especializada em rock'n'roll e, conforme reparou em outras ocasiões, como ela era naturalmente bela: seu cabelo de um louro natural, geralmente despenteado, e nunca usava qualquer tipo de maquiagem.

Se encontraram várias vezes depois disso, até que ela teve que retornar pra casa. Meses depois, Paul precisou ir aos EUA com John para anunciar a Apple Corps. por lá, e se encontraram novamente. Mais alguns meses se passaram até que ele telefona perguntando o que ela achava de se mudar com sua filha para Londres. Apesar da relutância em largar sua carreira e família nos EUA, elas foram. Paul e Linda se casaram em 12 de março de 1969 (alguns dias antes de John e Yoko), e Paul adota a filha de Linda, Heather.

No ano seguinte, os Beatles não eram mais uma banda - e, podemos dizer, nem amigos. Paul entrou numa depressão terrível que deixou Linda sem saber o que fazer. Ela sugeriu que ele tentasse seguir uma carreira musical sozinho, ou chamasse alguns amigos para começar quem sabe uma outra banda. Assim surgiu o Wings, do qual Linda acabou fazendo parte. Linda não era música e também não levava jeito pra coisa - o que muita gente fez questão de ressaltar de maneira maldosa; mas ela não fazia isso pela música ou por autopromoção: fazia isso por ele, para acompanhá-lo, para mostrar que ela sempre estaria do lado dele.

Bom, o resto é história. Paul conseguiu a grande e feliz família que sempre sonhou. Sua esposa era sua amiga e companheira fiel. E o casamento ia muito bem, até que em 1995 Linda descobre que tem um câncer de mama, que logo piorou e se espalhou para seu fígado. Linda optou por não fazer tratamento ou tomar qualquer tipo de medicação. Ela era vegetariana e ativista fervorosa em favor dos direitos dos animais, e se recusou a se submeter a tratamentos e medicamentos que foram previamente testados em animais, no que foi relutantemente apoiada por seu marido, que se uniu a ela nas causas. Como era de se esperar, Linda McCartney faleceu em 17 de abril de 1997, aos 56 anos; deixando marido e 4 filhos. Morreu na fazenda da família, cercada por eles. Foi cremada e suas cinzas foram espalhadas por lá.


A morte de Linda deixou bem mais do que a família órfã. O PETA (que é uma organização a favor dos direitos dos animais do qual várias pessoas influentes fazem parte) criou em sua homenagem o "Linda McCartney Memorial Award". Algum tempo depois também foi realizado um "Concert For Linda", em Londres, com vários artistas de peso como George Michael, The Pretenders, Elvis Costello e Tom Jones. Toda a renda foi doada para instituições que pesquisavam tratamentos para o câncer sem a realização de experiências em animais. Também foi erguido um memorial em sua homenagem, em Campbelltown, na Escócia.


Ainda hoje Paul se refere à Linda em tudo o que diz ou faz. Em todos os seus shows, ele oferece músicas para ela (mesmo quando estava casado com a odiável Heather Mills). E, coisa que descobri agora, o nome do seu álbum de 2007, Memory Almost Full, é na verdade um anagrama para "For My Soulmate LLM" (Linda Louise McCartney).

Linda foi o amor da vida de Paul McCartney. Sempre foi e, pelo que testemunhamos ainda hoje, sempre será.




My Love foi uma das tantas músicas que Paul McCartney compôs para sua alma-gêmea, esta ainda em 1973. Ele anda tocando essa canção constantemente em seus shows e, claro, nos lembrando de que foi feita para Linda. É uma música muito bonita e as lágrimas brotam ao ouví-la, é inevitável.

 


Don't ever ask me why
I never say goodbye to my love
It's understood
It's everywhere with my love
And my love does it good

Only my love does it good to me...



Neste mesmo dia, no ano passado, Paul estava tocando em Coachella. Ao anunciar My Love e dizer que era o aniversário de morte de Linda, fica muito emocionado; e desafina praticamente a música toda, de tanto que chorava. Aqui tem uma filmagem de alguém que estava na plateia, caso queiram ver e chorar junto :P



Acho difícil que alguém tenha lido tudo isso, eu me empolguei de novo. Mas, como disse em outro post, a Linda é uma daquelas pessoas por quem eu sinto um carinho enorme sem ao menos tê-la conhecido. Só quis fazer uma homenagem (meia-boca, admito) no aniversário de sua morte. Muito obrigada a quem acompanhou.

Linda Louise McCartney
1941-1998


foto 2: o dia em que se conheceram (1967);
foto 3: o casamento (1969);
foto 4: Wings (c. 1971);
foto 5: com as filhas Heather, Mary e Stella (James ainda não tinha nascido - c. 1974);
foto 6: uma das últimas, Linda já com os cabelos curtos (1998)
foto 7: póstuma (c. 1999)

domingo, 11 de abril de 2010

Há 40 anos... (ontem)

... Paul McCartney anuncia o fim dos Beatles.



Apesar da banda já estar acabando desde 1968, pelo menos, e da data oficial do término ser em 1975, dia 10 de abril de 1970 foi quando Paul cansou e chutou o pau da barraca.



"(...) E a história mudaria à medida que seus atores envelheciam. Paul deixou de ser Paul — tornou-se Sir Paul, condecorado pela rainha em 1997. John deixou de ser John — tornou-se São John, um arquétipo para jovens roqueiros irados de todos os cantos. George deixou de ser um estepe — tornou-se George Harrison, artista talentoso e humanitário, que organizou concertos beneficentes para alimentar os pobres e mudar o mundo, algumas coisas e algumas pessoas. E Ringo... bem, Ringo ainda era Ringo. Sempre seria. (...) O garoto doentio que quase morreu tantas vezes acabou vivendo mais do que dois de seus colegas de grupo e tantos outros nesta história."







E, a parte que me fez chorar quando eu acabei o livro: (HUAHAuh)

"The Beatles. Uma imensidão de talento, charme e genialidade incompreensível, um oceano como o que os quatro garotos viam quando olhavam para o horizonte, das colinas de Liverpool. E, a partir daí, uma torrente de canções, de amor, de dor e de beleza, uma torrente que jorrou do Cavern, de Hamburgo e de Londres para o mundo, uma correnteza que empurrou para o lado o que tinha vindo antes, que limpou e que destruiu, e no final nutriu. Água."



(ambos os trechos retirados das páginas 847-848 da biografia de Bob Spitz)