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quarta-feira, 28 de julho de 2010

A chamada "The Jesus Controversy" faz anos.

"O Cristianismo passará. Vai sumir e encolher. Não preciso discutir sobre isso. Estou certo e serei provado disso. Nós somos mais populares do que Jesus, agora. Eu não sei o que vai sumir primeiro, o rock'n'roll ou o Cristianismo. Jesus era legal, mas seus discípulos eram estúpidos e ordinários. É o que eles distorceram que arruina tudo pra mim."

Acredito que todos aqui já tenham ouvido falar na famosa polêmica que essas palavras de John Lennon provocaram, quando saíram na revista americana DATEbook, em 29 de julho de 1966. A declaração gerou revolta em muitas pessoas que já procuravam motivos para desaprovar a influência que a banda exercia na juventude da época, e inclusive em muitos fãs. Depois dela, discos foram queimados em praça pública, shows foram boicotados, as músicas foram banidas das rádios de vários países e a banda mesmo recebeu ameaças de morte, inclusive, acreditem, da Ku Klux Klan. Este foi um dos grandes motivos pelos quais os Beatles encerram suas turnês em 1966 e nunca mais tocaram juntos em público até o fim da banda, em 1970.

Logo depois de ter dado a declaração, em seu quarto de hotel em Chicago.

Porém, houve muito de má-interpretação nesta infeliz escolha de palavras. A entrevista original foi dada a uma jornalista, amiga da banda, de um jornal britânico no começo do mesmo ano e não houve repercussão alguma sobre ela na Europa, pois a dita declaração fazia parte de todo um contexto que foi simplesmente omitido na publicação americana. A polêmica não teve espaço na Inglaterra pois o Cristianismo estava realmente decaindo na Europa desde a Primeira Grande Guerra, e a Igreja não escondia seus esforços para se tornar relevante novamente.

Obviamente, depois de toda a confusão e prejuízo que a declaração gerou, Lennon se viu obrigado (principalmente pelo empresário da banda, Brian Epstein) a se desculpar publicamente. John aceitou, mas as entrevistas que se seguiram não foram bem "pedidos de desculpa". Soavam mais como uma justificativa. Ele não queria retirar o que disse, queria apenas se explicar.

"Se eu tivesse dito que a televisão era mais popular do que Jesus, eu teria escapado disso tudo. Vocês sabem, mas como aconteceu de eu estar conversando com uma amiga, eu usei a palavra 'Beatles' como uma coisa remota - não como o que EU penso dos Beatles ou como as outras pessoam veem a gente. Eu só disse que eles estão tendo mais influência nos jovens e nas coisas do que qualquer outra coisa, incluindo Jesus. Mas eu disse isso daquele jeito, que foi o jeito errado."

"Originalmente eu estava apontando o fato me referindo à Inglaterra - que nós significávamos aos jovens mais do que Jesus significou, ou a religião, naquela época. Eu não estava criticando negativamente ou tentando derrubar, só estava dizendo aquilo como um fato. E é mais ou menos verdade, especialmente mais na Inglaterra do que aqui. Eu não estava dizendo que nós éramos melhores, ou maiores, ou nos comparando a Jesus Cristo como pessoa ou a Deus como o que quer que Ele seja, sabem. Eu só disse o que disse e estava errado, ou fui interpretado errado. E agora deu nisso."

Sendo, portanto, constantemente pressionado pela imprensa que não queria ouvir suas explicações, apenas o pedido de desculpas oficial, Lennon se dá por vencido:

"Eu não estava dizendo o que quer que eles digam que eu estava dizendo. Na verdade estou até arrependido de ter dito aquilo. Nunca pretendi ser um anti-religioso nojento. Me desculpem, se isso os deixa felizes. Ainda não sei direito o que foi que eu fiz. Eu tentei dizer a vocês o que eu fiz mas se vocês querem que eu me desculpe, se isso os deixa felizes, então beleza, desculpe."

Apesar de tanto esforço por se fazer entender, as coisas nunca mais foram as mesmas para ele ou para a banda. Talvez a maior tragédia que tenha ocorrido em decorrência de tais palavras tenha sido o próprio assassinato de John, em 1980. Mark Chapman, o autor dos disparos que o mataram e dito "cristão fervoroso", disse que se sentiu impelido a assassinar o homem que tanto adorava por causa da sua "blasfêmia" e de músicas como God e Imagine, que, segundo ele, o decepcionaram profundamente.

Em 2008, o Vaticano foi tomado de bondade divina e resolveu perdoar a declaração de John Lennon, sob o argumento de que aquilo foi "apenas uma demonstração de orgulho de um jovem que foi dominado pela fama excessiva". Aproveitaram também para retirar tudo o que diziam a respeito da banda na época, sobre seu comportamento e influência, e até elogiaram suas "belas melodias" e os chamaram de "uma jóia preciosa". John não viveu o suficiente pra receber as boas novas, mas seu amigo Ringo Starr deu uma resposta à altura: "Ué, o Vaticano dizia que nós éramos satânicos e fazíamos coisas satânicas, e agora quer nos perdoar? Desculpem, acho que vocês têm coisas mais importantes do que os Beatles com o que se preocupar".

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É importante que se entenda que nem John Lennon e nenhum dos outros Beatles eram anticristos e tampouco desacreditavam em Deus. Ser contra Deus e ser contra a Religião são coisas diferentes, e isso Lennon fazia questão de deixar bem claro. John tinha suas crenças mas sempre foi um inconformado com muitos aspectos da vida e se questionava sobre muitas coisas, inclusive ele mesmo.

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FONTES: Beatles Timeline | About | Wikipedia | Telegraph | SPITZ, Bob. The Beatles: A biografia.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Há 53 anos, a mais famosa dupla do mundo se formava.


Dois rapazes de idades diferentes, classes diferentes, realidades familiares diferentes; que se conheceram na quermesse anual de Liverpool, enquanto a banda de skiffle local, The Quarry Men, tocava. Dois garotos que em nada se assemelhavam, salvo em um aspecto: a paixão pela música. Dois rapazes que viram um no outro o que queriam ser dali em diante...

...A dupla mais importante, produtiva e perfeita da história da música.


"Não havia dúvida, eles estavam sintonizados na mesma estação. No entanto, além da paixão pela música e da identificação, ambos preenchiam enormes lacunas na vida um do outro. Enquanto John era impaciente e descuidado, Paul era perfeccionista - ou pelo menos aparentava ser - na abordagem metódica em relação à música e na forma como via o mundo.

Enquanto John era temperamental e despreocupado, Paul era expansivo, gregário e irrepreensivelmente alegre. Enquanto John era direto e brutalmente franco, Paul usava da diplomacia para manipular as situações. Enquanto John tinha atitude, a natureza artística de Paul era um trabalho em progressão. (...) Enquanto John lutava para se transformar em músico, Paul parecia ter nascido músico."

SPITZ, Bob. The Beatles: A biografia. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007.

Lennon-McCartney. Desde 1957.